terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Solar do Colégio

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Possui a denominação de “Solar do Colégio” porque o estabelecimento era sede de uma grande fazenda que pertencia ao Colégio Jesuíta (Colégio de Santo Inácio) da cidade do Rio de Janeiro.
A passagem dos Jesuítas para a antiga Capitania de São Tomé (mais tarde Capitania da Paraíba do Sul) e seu êxito na tarefa de pacificação dos índios, torna essa região, até então esquecida, famosa entre os habitantes do Rio de Janeiro. E como era uma região rica em campinas nativas, propícias à criação de gado, nasce a cobiça pela terra goytacá. A Capitania voltou ao domínio da Coroa Portuguesa em 1619. Como estava abandonada, 7 (sete) colonos requerem, em 1627, as terras situadas entre os rios Macaé e o Cabo de São Tomé. Esses colonos ficaram conhecidos como os “Sete Capitães”, sendo a maioria deles senhores de engenho na cidade do Rio de Janeiro e arredores. E haviam prestado serviços de guerra à Coroa Portuguesa nas lutas contra os franceses e seus aliados indígenas em fins do século XVI.
Os jesuítas tornaram-se oficialmente proprietários de terras na Capitania, em 1648 quando as terras foram redivididas pelo Governador da Cidade do Rio de Janeiro, General Salvador Corrêa de Sá e Benevides.
A área total destinada aos jesuítas nesta época, a Fazenda Nossa senhora da Conceição e Santo Inácio, possuía cerca de 26 Km2 de extensão. Situava-se na área compreendida entre o Rio Paraíba e a Lagoa Feia indo até o mar, na Barra do Furado, o melhor porto natural da região. A construção da sede se deu entre 1650 e 1690, de acordo com registros em livros da Ordem.
De um modo geral, os jesuítas escolhiam uma situação privilegiada para localização dos seus estabelecimentos. Primeiro se fixavam em um local provisório, e depois de conhecer bem a região, escolhiam local mais adequado e definitivo. Em sua maioria localizados em locais elevados para facilitar a defesa e o controle dos arredores, próximos a rios e lagoas facilitando deslocamento de produtos e pessoas.
O Solar do Colégio foi construído em local privilegiado, constitui o centro geográfico de uma planície e apresenta uma elevação em relação aos arredores, protegido dos brejos na época das chuvas. A fachada principal está voltada para leste propiciando boa ventilação natural e recebe os raios solares matinais, é composta por: solar, torre e capela, formando um só corpo linear. Todo o conjunto apresenta telhado em duas águas, apresentando o beiral tipo “beira-seveira”.
Quando os jesuítas foram expulsos de Portugal e suas colônias em 1759, a Fazenda contava com 1435 escravos, 9000 cabeças de gado vacum e 1000 cavalar. Sua extensão territorial havia sido consideravelmente aumentada devido a aquisições e doações.
Em 1781, a Fazenda de Nossa Senhora da Conceição e Santo Inácio foi vendida pelo fisco (em leilão) a Joaquim Vicente dos Reis e seus sócios João Francisco Vianna e Manuel José de Carvalho, pela quantia de 187 contos 953 mil réis. Por falecimento de seus sócios, Joaquim Vicente dos Reis tornou-se único proprietário da Fazenda. Joaquim Vicente dos Reis era Tenente-Coronel da Milícia, Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada e Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo. Homem de grande visão ampliou e completou a antiga Fazenda jesuíta. Faleceu em 09 de abril de 1813.
A descrição de Manuel Martins do Couto Reis, militar e cartógrafo português, em seu Manuscrito datado de 1785, comprova a importância econômica que a propriedade adquiriu, pela grande quantidade de escravos, gado, produção de açúcar e aguardente, produtos agrícolas de subsistência e tecidos.
Por volta do ano de 1819, o viajante Auguste Saint-Hilaire (Viagem pelo distrito dos diamantes e do litoral do Brasil) fez curiosa descrição, onde relata o tamanho da propriedade (9 léguas quadradas) estendendo-se até o Rio Macaé. Sobre a habitação cita que era dividida pela igreja em duas partes, uma destinada à família e a outra com engenho de açúcar e habitação para escravos com 360 passos de comprimento por 250 de largura. Cita ainda uma olaria e um edifício inteiramente isolado onde tratavam dos doentes.
O coronel Sebastião Gomes Barroso, genro e herdeiro de Joaquim Vicente dos Reis era o proprietário da Fazenda do Colégio por ocasião da visita de Saint-Hilaire. Por seu falecimento a propriedade, coube a seu filho, Tenente-Coronel Francisco de Paula Barroso, que era Cavaleiro da Ordem de Cristo e Oficial da Ordem da Rosa, agraciado com o título por D. Pedro II que visitou a fazenda em 14 de julho de 1875.
Com a administração do Coronel Francisco de Paula Barroso, a propriedade adquiriu características de avançada usina de açúcar. Manteve o hospital com médicos, prestando assistência ao pessoal da Fazenda e das vizinhanças. Com sua morte em 1892, por haver muitos herdeiros, tem início o processo de desagregação econômico-financeira da Fazenda do Colégio.
O ultimo ocupante do Solar foi João Baptista Vianna Barroso, neto do coronel Francisco de Paula Barroso. Nasceu no Solar no dia 04 de setembro de 1880 permanecendo entre suas paredes até quando veio a falecer nos idos de 1970.
No frontão da igreja, há duas datas, 1803 e 1934, são relativas às reformas porque passou. Em 1926 uma tempestade destruiu o coro e o órgão. Em seu interior estão sepultados membros da família Barroso e heroína campista Benta Pereira.
O Solar do Colégio foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 20 de maio de 1946 e desapropriado pelo governo do estado em maio de 1977.
Durante alguns anos esteve cedido à Prefeitura de Campos, que mantinha uma escola no local, e depois ficou abandonado. Nesse período sofreu um grande processo de deterioração e depredação, onde foram roubados detalhes da decoração arquitetônica, altares, pia batismal, sinos, lavabos em mármore, relógio de sol, tábuas do assoalho, portas, janelas e lajotas cerâmicas do piso.
Em 1995 teve início o processo de restauração do conjunto, o projeto inicial era para abrigar a Escola de Cinema, que não foi adiante e as obras foram paralisadas. Em 2000, conduzida pela FENORTE-UENF, as obras foram retomadas para então abrigar o Arquivo Publico Municipal. O Solar passou por obras de adaptação, estando assim em condições para abrigar o acervo documental e as atividades técnicas do Arquivo.
O processo de ocupação do Solar do Colégio serve como modelo para a adequação de muitos prédios históricos existentes no país, na função de proteger o patrimônio documental e cultural. Sua adequação à nova função prevê medidas cabíveis contra riscos relacionados a fogo, ataques de insetos, vandalismo, umidade excessiva e necessidades específicas quanto à preservação do acervo custodiado. Uma das mais importantes ações no sentido de preservar o edifício, é a sua efetiva ocupação.
O arquivo foi inaugurado em 28 de março de 2002, contando com a presença de autoridades municipais, o Reitor e Pró-Reitores da UENF, professores de diversas instituições de ensino locais e da UFF, a Presidente e funcionários da FENORTE e a Diretora Geral do APERJ.

Carlos Roberto Bastos Freitas
Diretor

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